Neste artigo de opinião para a RH Magazine, Maria João Melo explora como os princípios do feng shui podem transformar os ambientes de trabalho, promovendo bem-estar, criatividade e produtividade ao alinhar os espaços com as necessidades humanas.
O termo apareceu pela primeira vez em “O Livro do Enterros”, de Guo Pu (276-324 AD), um erudito chinês da dinastia Jin. À época, o feng shui, que se traduz para “vento e água”, era usado para orientar a escolha de terrenos auspiciosos, garantindo que edifícios e sepulturas vivessem em perfeita harmonia com a natureza.
Ao longo dos séculos, esta prática evoluiu muito além das suas raízes espirituais e geomânticas. Hoje, é uma filosofia reconhecida que assenta no design de espaços capazes de promover o bem-estar, a concentração, a criatividade e a produtividade.
E, sim, parece um exagero, mas quem nunca se sentiu mais inspirado num local bonito, organizado e acolhedor? A disposição dos elementos no escritório, a iluminação, o uso de cores e até mesmo a presença de plantas podem influenciar diretamente o estado de espírito dos funcionários e, consequentemente, a sua performance.
Há estudos que o provam, como este da Randstad Portugal, publicado em 2023, que revelou que um ambiente de trabalho positivo está entre as cinco principais razões pelas quais as pessoas escolhem trabalhar para uma empresa, além de ajudar a reduzir a rotatividade e o absentismo. Também não é ao acaso que muitas empresas recorrem a consultores de feng shui com o intuito de aplicar esta arte milenar nos seus locais de trabalho.
A luz natural, por exemplo, tem sido associada a um aumento de energia e concentração. Isso acontece porque a luz solar ajuda a regular os ritmos circadianos, os ciclos biológicos que influenciam o nosso sono e o estado de alerta. Por outro lado, ambientes com iluminação inadequada ou insuficiente podem resultar em fadiga ocular, dores de cabeça e até mesmo sentimentos de apatia – e é por isso que, sempre que possível, as secretárias devem estar próximas de janelas.
Passemos agora à importância do layout, ou disposição do espaço. Ambientes que favorecem a interação entre as pessoas, como mesas partilhadas ou zonas de descanso e colaboração, estimulam o trabalho em equipa e a troca de ideias, o que, por sua vez, aumenta a criatividade.
Mas também devem existir, em paralelo, zonas reservadas à concentração individual – só desta forma é possível responder às diferentes necessidades dos colaboradores ao longo do dia. Outro elemento essencial são as plantas vivas que, além de melhorarem a qualidade do ar, reduzem o stress.
Este tema (Feng shui) tem pano para mangas e, não me querendo alongar, deixo mais uma peça deste puzzle: a tecnologia. Num mundo cada vez mais digital, esta também desempenha um papel crucial na criação de espaços de trabalho harmoniosos, que podem ir desde dispositivos portáteis para uma maior flexibilidade de trabalho, até ferramentas que otimizam a interação e a colaboração síncrona entre equipas.
Assim como o vento e a água fluem para criar equilíbrio na natureza, os ambientes de trabalho devem ser desenhados em linha com as necessidades humanas. É neste fluxo constante, de adaptação e sintonia, que a produtividade se encontra.