O artigo “A energia está cada vez mais perto de nós”, da autoria de Francisco Ramos Pinto, COO da Helexia Portugal, e publicado na Welectric, integra a série “Comunicação 3D” — uma parceria entre a Helexia Portugal e a Welectric. Neste texto, o autor traça a evolução do setor energético em Portugal, destacando o papel central da descentralização, do autoconsumo e das comunidades de energia na construção de um futuro mais sustentável e resiliente.
A forma como produzimos e consumimos energia em Portugal tem sofrido uma transformação profunda ao longo das últimas décadas.
Durante grande parte do século XX, a produção de energia era centralizada e fortemente dependente de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo. As grandes unidades de produção estavam afastadas dos centros de consumo, e a eletricidade era transportada por longas distâncias através da rede elétrica nacional.
Nos anos 80 e 90, começou a ser explorado o potencial das energias renováveis, com destaque para a energia hídrica, através da construção de barragens. Esta fase marcou o início de uma diversificação da matriz energética.
A partir dos anos 2000, Portugal acelerou a transição energética com um forte investimento na energia eólica, que hoje representa mais de 5,5 GW de potência instalada. Seguiu-se, na década de 2010, o crescimento da energia solar, que ganhou relevância tanto em escala industrial como em projetos de autoconsumo, totalizando atualmente cerca de 1,7 GW.
Já na década de 2020, o foco está na descentralização da produção, no autoconsumo coletivo e nas comunidades de energia, aproveitando melhor os recursos locais e promovendo uma maior autonomia energética.
Este percurso tem tido resultados expressivos: em abril de 2025, 89% do consumo elétrico nacional foi abastecido por fontes renováveis, com destaque para a hídrica (44%), eólica (29%), solar (10%) e biomassa (6%) – (fonte REN ).
A descentralização energética ganha força
Com o autoconsumo solar, tanto empresas como particulares podem produzir parte da energia que consomem, diretamente nos seus edifícios e instalações. Isto representa uma mudança profunda na relação com a energia: produzimos mais perto do ponto de consumo, reduzimos perdas na rede e ganhamos autonomia.
Esta revolução foi possível também graças à evolução da própria tecnologia.
O custo dos painéis solares fotovoltaicos caiu significativamente nos últimos anos, tornando os projetos de autoconsumo mais acessíveis e financeiramente viáveis. Este fator tem sido decisivo para acelerar a adoção da energia solar em Portugal.
Além disso, a legislação portuguesa tem vindo a acompanhar essa transformação, criando um quadro legal mais favorável ao desenvolvimento do autoconsumo. A regulamentação tem sido essencial para dar confiança ao mercado e permitir a expansão de novas soluções, como o autoconsumo coletivo e as comunidades de energia — modelos que permitem que vários consumidores partilhem a energia produzida localmente, reforçando a coesão social e energética.
Outro avanço importante é a hibridização da produção de energia. Já existem projetos em que o solar é combinado com outras fontes renováveis, como o vento ou a biomassa. Esta integração permite otimizar o aproveitamento dos recursos naturais disponíveis e aumentar a estabilidade do fornecimento.
O armazenamento de energia é outro pilar essencial nesta transformação. Com o apoio de baterias, torna-se possível guardar a energia produzida durante o dia para ser usada à noite ou em períodos de menor produção solar. Isto permite não só aumentar a autonomia energética, mas também reduzir a pressão sobre a rede elétrica. A tecnologia de armazenamento tem vindo a evoluir rapidamente e será decisiva para garantir maior flexibilidade e resiliência aos sistemas energéticos descentralizados.
Para um país como Portugal, com bons níveis de radiação solar, recursos eólicos e um histórico de dependência da importação de combustíveis fósseis, esta evolução representa uma oportunidade estratégica. Aproveitar os nossos recursos endógenos é fundamental para reforçar a soberania energética, acelerar a transição climática e criar valor a nível local.
A energia do futuro já começou — e está cada vez mais perto de nós.
Fonte REN: https://datahub.ren.pt/pt/eletricidade/balanco-mensal/