Portugal acelera transição energética, mas enfrenta desafios em setores-chave

Portugal está a dar passos firmes rumo à neutralidade carbónica, com avanços significativos na produção de energia renovável e metas ambiciosas definidas no Plano Nacional de Energia e Clima 2030. No entanto, setores como os transportes e a eficiência energética nos edifícios continuam a travar o ritmo da descarbonização. Empresas como a Helexia têm desempenhado um papel crucial neste caminho, promovendo soluções holísticas e integradas, que combinam produção de energia renovável, eficiência energética, mobilidade elétrica e armazenamento.
Falámos com Luís Pinho, Country Manager da Helexia, em Portugal.


A descarbonização está a acontecer ao ritmo certo? Como avalia o estado atual da transição energética em Portugal?

A descarbonização é um dos pilares da transformação do modelo económico, e o grande desafio está em conciliar o crescimento económico com a redução das emissões de gases com efeito de estufa responsáveis pelo aquecimento global. A União Europeia tem liderado este processo através do Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal), que estabelece a neutralidade climática até 2050 e uma meta intermédia de redução de 55% das emissões até 2030, face a 1990.

No contexto europeu, os resultados são heterogéneos: enquanto setores como a produção de energia elétrica registam progressos expressivos – com as emissões cobertas pelo Sistema Europeu de Comércio de Emissões (EU ETS) a descerem 5% em 2024, situando-se cerca de 50% abaixo dos níveis de 2005 –, outros setores revelam fragilidades. Os transportes continuam a aumentar as suas emissões devido a atrasos na eletrificação e à lenta adoção de combustíveis sustentáveis. Na indústria leve, a modernização tecnológica e a descarbonização avançam a um ritmo insuficiente, condicionadas por custos de substituição elevados. E no setor dos edifícios, a estagnação das taxas de renovação energética e a redução abrupta nas vendas de bombas de calor em 2024 dificultam o alcance das metas climáticas.

Em Portugal, a trajetória segue a mesma lógica de avanços e desafios. O país reforçou significativamente a ambição no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) 2030, alinhando-se com os objetivos da UE. O PNEC estabelece metas mais exigentes em três eixos estratégicos: energias renováveis, eficiência energética e descarbonização setorial. Destaca-se o setor elétrico, com o objetivo de alcançar 93% de eletricidade de origem renovável até 2030, suportado pela expansão da capacidade solar (20,8 GW previstos) e eólica (12,4 GW, incluindo 2 GW offshore).

Este reforço é um passo crucial para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e aumentar a resiliência do sistema elétrico. No entanto, como nos restantes países europeus, setores como os transportes e a eficiência energética nos edifícios exigem uma aceleração substancial para garantir que Portugal cumpre as metas climáticas no prazo estabelecido.

Nos últimos anos, que mudanças mais relevantes destacaria no setor energético nacional?

A forma como Portugal produz e consome energia sofreu uma transformação estrutural nas últimas décadas, refletindo a evolução tecnológica e o compromisso com a transição energética. Durante grande parte do século XX, o sistema energético era centralizado e fortemente dependente de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo. As grandes unidades de produção estavam localizadas longe dos centros de consumo, exigindo o transporte de eletricidade por longas distâncias através da rede nacional. Nos anos 1980 e 1990, Portugal iniciou a diversificação da sua matriz energética com a aposta nas energias renováveis, destacando-se a construção de barragens hidroelétricas. Este foi um marco inicial na redução da dependência de combustíveis fósseis e na valorização do potencial endógeno.

A partir dos anos 2000, o país acelerou a transição energética com um investimento significativo na energia eólica, que hoje representa mais de 5,4 GW de potência instalada. Na década seguinte, a energia solar começou a ganhar escala, tanto em grandes projetos industriais como no autoconsumo distribuído.

Na década de 2020, a tendência evoluiu para a descentralização da produção e o desenvolvimento de comunidades de energia e projetos de autoconsumo coletivo. Esta democratização generalizada de acesso permite que cada consumidor possa produzir parte da sua energia, aproveitando melhor os recursos locais e usufruindo de uma maior autonomia energética.

Este percurso tem dado resultados expressivos. Em maio de 2025, Portugal atingiu 6,17 GW de potência fotovoltaica instalada, refletindo o rápido crescimento da energia solar. Em 2024, a produção renovável abasteceu 82,1% do consumo elétrico nacional, e no ano atual a taxa situa-se em 77,3%, consolidando o país como um dos líderes europeus na integração de fontes de energia limpa e no caminho para a neutralidade carbónica.

Fapricela projeto

Qual tem sido o papel da Helexia, ao longo destes quase 10 anos em Portugal, na promoção da transição e gestão energética?

A Helexia acredita profundamente num modelo de desenvolvimento de baixo carbono e, ao longo destes quase 10 anos em Portugal, tem trabalhado para acelerar a transição energética das empresas. Adotamos uma visão holística da descarbonização, apoiando os nossos clientes em todas as fases da jornada: desde a produção de energia limpa para autoconsumo, à eficiência energética, à gestão inteligente de energia e à mobilidade elétrica.

O nosso modelo de negócio vai além do desenho, construção e operação dos projetos — oferecemos também soluções de financiamento, permitindo que as empresas se concentrem no seu core business enquanto a Helexia investe para tornar os seus ativos mais eficientes e sustentáveis.

Acreditamos que a transição energética só é bem-sucedida quando existe um equilíbrio entre economia e ecologia: os projetos devem ser economicamente viáveis e, em simultâneo, reduzir a pegada carbónica. Num país como Portugal, com uma crescente vocação exportadora, ajudar as empresas a reduzir os custos energéticos e a aumentar a competitividade é essencial para sustentar o crescimento e alinhar a atividade económica com os objetivos climáticos.

Fazendo um balanço destes quase 10 anos, iniciámos a nossa atividade em 2017 com a instalação do primeiro projeto de 1 MWp. Hoje, é motivo de orgulho ver que já temos 62,4 MWp em operação e uma carteira de contratos que nos permitirá ultrapassar os 103 MWp a curto prazo. Os projetos em funcionamento já produziram mais de 140 GWh de energia limpa, contribuindo para que os nossos clientes poupassem mais de 4 milhões de euros em custos energéticos e evitando a emissão de cerca de 60 mil toneladas de CO₂. Estes resultados demonstram o papel ativo da Helexia na construção de um tecido empresarial mais eficiente, competitivo e alinhado com os desafios da transição energética.

De que forma ajudam os consumidores portugueses – particulares ou empresas -, a produzirem e gerirem a sua própria energia?

A Helexia atua como parceira estratégica para ajudar as empresas portuguesas a produzirem e gerirem a sua própria energia de forma eficiente e sustentável. Fazemo-lo através de soluções integradas que combinam a produção de energia limpa para autoconsumo, com sistemas fotovoltaicos dimensionados às necessidades de cada cliente, com a implementação de medidas de eficiência energética e de sistemas avançados de gestão de energia.

A gestão de energia é um instrumento fundamental desta abordagem, a monitorização e análise dos consumos energéticos, permite identificar padrões de consumo, detetar ineficiências e definir estratégias para reduzir custos e otimizar recursos. Este acompanhamento é essencial para empresas que querem manter-se resilientes num contexto de volatilidade dos preços da energia e crescente exigência regulatória.

Além disso, oferecemos modelos de financiamento inovadores que permitem às empresas avançar para a transição energética sem necessidade de investimento inicial. Assim, podem dedicar os seus recursos ao core business, enquanto a Helexia investe e gere os ativos energéticos, garantindo redução de custos, maior autonomia energética e menor pegada carbónica. Ao integrar também soluções de mobilidade elétrica, como a instalação e operação de pontos de carregamento, promovemos uma visão 360º da transição energética, ajudando os nossos clientes a preparar-se para os desafios de um mercado cada vez mais competitivo e sustentável.

O armazenamento de energia está a ganhar importância. Quais são os principais desafios técnicos e económicos da sua integração em projetos de autoconsumo?

O armazenamento de energia está a assumir um papel cada vez mais central na transição energética. Segundo dados do Battery Storage Europe, em 2024 foram instalados na Europa 21,9 GWh de nova capacidade de armazenamento em baterias, assinalando o 11.º ano consecutivo de crescimento. Este ritmo elevou a capacidade total instalada para cerca de 61 GWh. As projeções são ambiciosas: até 2029, a capacidade acumulada poderá atingir 400 GWh, uma expansão de seis vezes face ao nível atual. No entanto, estima-se que o verdadeiro potencial do mercado europeu se aproxime dos 600 GWh, evidenciando a necessidade crescente de soluções de armazenamento para integrar eficazmente energias renováveis e reforçar a estabilidade e flexibilidade do sistema elétrico.

Um fator crítico para acelerar esta tendência é a evolução do custo das baterias. Em 2023, o preço médio global por kWh de capacidade de armazenamento caiu 14%, retomando a tendência de descida de longo prazo. As previsões apontam para preços médios abaixo de $100/kWh até 2026/2027, impulsionados pela redução nos custos das matérias-primas e pela maior concorrência no setor. Estes valores são determinantes, já que o CAPEX influencia diretamente o retorno financeiro dos projetos e a viabilidade de soluções avançadas de gestão de energia e suporte à rede.

Em Portugal, o desenvolvimento de um novo enquadramento legal e regulatório para o licenciamento de projetos de armazenamento energético — incluindo baterias — está a criar condições mais favoráveis para a rápida implementação desta tecnologia. A Helexia, enquanto player ativo no setor, acompanha este tema com grande interesse. Reconhecemos o potencial transformador do armazenamento energético e estamos a trabalhar para, muito em breve, apresentar novas soluções que integrem baterias nos nossos projetos de autoconsumo.

Entrevista publicada em Jornal Económico.

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