Não há almoços grátis. Ou será que há?

Quem nunca ouviu a expressão “não há almoços grátis”? Popularizada pelo economista norte-americano e Prémio Nobel Milton Friedman no seu livro “There’s No Such Thing as a Free Lunch”, publicado em 1975, esta frase tornou-se uma referência no discurso económico.

artigo almoço grátis

Neste artigo de opinião para o +M do Sapo, João Guerra questiona a ideia de que ‘não há almoços grátis’, refletindo sobre a economia do conhecimento e como motivação, criatividade e colaboração podem gerar valor invisível, mas real.


Investir em criar um ambiente que promova motivação e criatividade é uma forma de multiplicar valor, uma espécie de “almoço grátis”, onde os ganhos extra podem ser invisíveis, mas são reais.

Quem nunca ouviu a expressão “não há almoços grátis”? Popularizada pelo economista norte-americano e Prémio Nobel Milton Friedman no seu livro “There’s No Such Thing as a Free Lunch”, publicado em 1975, esta frase tornou-se uma referência no discurso económico. A ideia é simples: tudo na vida tem um custo, mesmo que este não seja imediatamente visível. Esse custo, embora muitas vezes financeiro, pode também assumir a forma de tempo, esforço, compromissos ou sacrifícios.

Faz sentido. Os recursos são limitados e mesmo quando algo é apresentado como “grátis” há quase sempre um preço oculto. Veja-se, por exemplo, o caso das plataformas digitais gratuitas que utilizamos diariamente: em troca, cedemos os nossos dados de navegação e consumo. Até um subsídio público, por mais vantajoso que pareça, é sustentado por impostos ou cortes noutros setores.

No entanto, uma entrevista que ouvi há alguns anos com Alvin Toffler fez-me questionar esta ideia. Toffler (1928-2016), autor, futurista e consultor norte-americano, destacou-se pelas suas análises visionárias sobre as transformações sociais, tecnológicas e económicas que continuam a moldar o mundo. Entre as suas previsões mais notáveis, estava a ideia de que o conhecimento, mais do que os recursos físicos, se tornaria o principal motor económico, antecipando com precisão o impacto da digitalização e da automação.

Vale lembrar que Toffler foi também o criador do termo prosumer (produtor + consumidor), que descreve indivíduos ou entidades que, além de consumirem bens e serviços, também os produzem. Este conceito, hoje evidente em plataformas como o YouTube e as redes sociais, aplica-se igualmente ao setor da energia, com soluções como o autoconsumo solar.

Na entrevista, Toffler, sugeria que existem, de facto, almoços grátis, mas que ainda não sabemos como obtê-los. Segundo ele, na era da informação, o conhecimento pode ser replicado e partilhado a um custo quase nulo. Em sistemas colaborativos, o custo pode ser tão diluído ou indireto que parece inexistente para quem beneficia.

Este pensamento levou-me a refletir sobre a economia do conhecimento, onde fatores intangíveis como motivação, criatividade e colaboração são os principais motores de produtividade. Um trabalhador motivado traz ideias, empenho e impacto positivo que vão além do que está no contrato, enquanto alguém desmotivado oferece apenas o básico. No entanto, os custos — salário e benefícios — são idênticos para ambos.

Assim, investir em criar um ambiente que promova motivação e criatividade é uma forma de multiplicar valor, uma espécie de “almoço grátis”, onde os ganhos extra podem ser invisíveis, mas são reais.

Obrigado, Alvin Toffler, por este almoço grátis.

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