O Relatório de Sustentabilidade da Primus Ceramics revela como a empresa está a transformar a sua produção através da economia circular, da valorização de resíduos, da utilização de energia renovável e da aposta em fornecedores nacionais, reforçando ao mesmo tempo a sustentabilidade e a competitividade na indústria da cerâmica.
Nesta entrevista, conversámos com Paulo Almeida, assessor da Primus Ceramics, sobre as estratégias implementadas, os resultados alcançados e os próximos passos na jornada sustentável da empresa — desde a recuperação de resíduos à eletrificação de processos e à promoção de práticas responsáveis em toda a cadeia de valor.
O relatório de sustentabilidade da Primus Ceramics revela que 100% dos resíduos gerados são destinados à recuperação. Como implementam a economia circular nos vossos processos de produção e quais os principais resultados alcançados até agora?
A implementação da economia circular na Primus Ceramics assenta em práticas que visam otimizar recursos, reduzir resíduos e promover a eficiência energética e hídrica em todas as fases do ciclo de vida dos produtos. Este modelo acompanha desde a seleção de matérias-primas até ao destino final do produto, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental e garantir um sistema de produção mais sustentável.
No que diz respeito à gestão de resíduos sólidos, a empresa apresenta algumas particularidades, uma vez que não dispõe de uma fase de preparação de pasta, o que leva a que os resíduos sejam encaminhados para operadores externos que os reincorporam nos seus processos produtivos. Exemplos disso são as lamas da ETAR, o pó atomizado e o caco cru, que são reintroduzidos como matérias-primas no setor cerâmico, sendo que o pó atomizado incorpora já cerca de 10% de material reciclado. O caco cozido, por sua vez, é enviado para um operador que o transforma em tout-venant para utilização na construção civil.
Importa ainda referir que, quando devidamente autorizados, resíduos como pó atomizado, caco cru e caco cozido podem ser desclassificados e considerados subprodutos, o que facilita a sua reintegração na cadeia de valor. Internamente, a empresa reutiliza também o pó atomizado proveniente do carro das prensas, o que corresponde a cerca de 5% do total de pó produzido.
A economia circular aplica-se igualmente à gestão de materiais de embalagem. O papel e o plástico resultantes do embalamento são enviados para reciclagem, sendo que o plástico utilizado já contém 30% de material reciclado. Além disso, a Primus Ceramics implementou um sistema de caução para as paletes de madeira, em que o cliente paga um valor de “tara” que é devolvido quando estas são restituídas, promovendo assim a sua reutilização, especialmente em operações de picking. Também no domínio hídrico, a empresa apresenta resultados expressivos: 100% da água residual tratada na ETAR é reaproveitada para usos não potáveis, como lavagens, reduzindo a captação de água da rede e o impacto ambiental associado.
A indústria cerâmica é reconhecida pelo seu elevado consumo energético e pela complexidade dos seus processos produtivos. Como é que a Primus Ceramics está a posicionar-se perante os desafios da transição energética, e de que forma isso influencia a competitividade da empresa no médio e longo prazo?
A Primus Ceramics tem procurado responder de forma proativa aos desafios da transição energética, apostando numa estratégia diversificada que combina a redução da dependência de combustíveis fósseis, a eletrificação de processos e a melhoria contínua da eficiência. Esta abordagem, essencial num setor com forte intensidade energética, permite não só cumprir metas de descarbonização, mas também reforçar a competitividade da empresa a médio e longo prazo.
Um dos pilares desta estratégia passa pelo investimento em autoconsumo fotovoltaico, através da instalação de uma central solar que reduz a dependência da rede elétrica e mitiga custos energéticos, representando hoje uma parcela cada vez mais relevante do consumo. A potência instalada tem vindo a ser ampliada em diferentes fases, encontrando-se já em curso a terceira expansão, que elevará a capacidade para 1,2 MWp. Paralelamente, a empresa tem apostado na eletrificação parcial dos processos, com destaque para o primeiro secador cerâmico híbrido, capaz de operar de forma totalmente elétrica quando existe energia solar disponível, alternando automaticamente para gás natural sempre que necessário.
Outra vertente prende-se com a adoção de combustíveis alternativos, como o biometano, que permite reduzir significativamente as emissões de CO₂ sem comprometer a estabilidade do processo produtivo. A empresa foi mesmo pioneira na aquisição de Garantias de Origem de Biometano, estando atualmente a concluir os processos necessários à sua implementação. Acresce ainda a aposta na eficiência dos processos, como a recuperação do ar quente dos fornos para utilização em fases anteriores, o que contribui para reduzir o consumo energético global.
Estas medidas refletem-se diretamente na competitividade. Ao diminuir a dependência de combustíveis fósseis, a Primus Ceramics torna-se menos vulnerável às oscilações do preço da energia, assegurando maior previsibilidade de custos. Além disso, a produção com menor pegada carbónica reforça o posicionamento da empresa como referência em sustentabilidade, num mercado cada vez mais sensível a critérios ambientais. O alinhamento com metas de descarbonização facilita também o acesso a financiamento e incentivos, como os previstos no Plano de Recuperação e Resiliência, sendo exemplo disso a participação na Agenda ECP – Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal. Por fim, o investimento em inovação tecnológica fortalece a resiliência e a capacidade de adaptação da empresa, garantindo-lhe vantagem competitiva no futuro.
O relatório sublinha que 89% dos fornecedores da Primus Ceramics são nacionais. Como é que a proximidade e a sustentabilidade caminham juntas na vossa estratégia de cadeia de valor? A empresa procura integrar critérios ESG no processo de seleção e avaliação de fornecedores?
A elevada percentagem de fornecedores nacionais, que representa 89% da cadeia de valor da Primus Ceramics, demonstra uma escolha estratégica em que a proximidade e a sustentabilidade se complementam. Esta abordagem reforça os compromissos ambientais da empresa e contribui para a solidez do negócio.
A proximidade geográfica dos fornecedores traduz-se numa redução significativa da pegada carbónica, já que diminui as distâncias percorridas no transporte de matérias-primas e componentes. Menos quilómetros significam menos emissões de CO₂ e menor consumo de combustíveis fósseis, alinhando-se diretamente com a estratégia de descarbonização. Para além disso, a dependência de fornecedores locais e regionais aumenta a resiliência da cadeia de abastecimento, reduzindo vulnerabilidades perante ruturas globais e permitindo uma comunicação mais ágil e eficaz, que garante maior estabilidade operacional. Também ao nível da qualidade, a proximidade favorece uma relação de colaboração mais estreita, possibilitando o acompanhamento direto e o trabalho conjunto com os parceiros, de forma a assegurar a conformidade com as normas e promover melhorias contínuas.
Paralelamente, a Primus Ceramics integra critérios ESG no processo de seleção e avaliação de fornecedores, reforçando a coerência entre a sua estratégia interna de sustentabilidade e a gestão da cadeia de valor. Entre os critérios ambientais, destacam-se a eficiência energética, a gestão de resíduos e a obtenção de certificações que comprovem boas práticas ambientais. No plano social, são avaliadas as condições de trabalho, o respeito pelos direitos humanos e a segurança, assegurando que os parceiros mantêm padrões laborais adequados. Já no domínio da governance, a empresa valoriza a transparência na gestão, a ética nos negócios e a prevenção de práticas de corrupção, recorrendo a ferramentas de análise de risco para garantir a idoneidade dos seus parceiros.
Deste modo, ao priorizar fornecedores nacionais e simultaneamente incorporar critérios ESG, a Primus Ceramics reforça a sustentabilidade da sua própria cadeia de valor, ao mesmo tempo que promove práticas responsáveis no setor e fortalece a sua competitividade no mercado nacional e internacional.
A análise de materialidade destacou a cultura empresarial e as alterações climáticas como temas prioritários. De que forma a Primus Ceramics está a envolver os seus colaboradores nesta jornada sustentável? Existe algum plano para reforçar o papel da formação, comunicação interna ou programas de sensibilização?
Ao identificar a cultura empresarial e as alterações climáticas como prioridades estratégicas na sua análise de materialidade, a Primus Ceramics reconhece que a participação dos colaboradores é essencial para o sucesso da sua jornada de sustentabilidade. A empresa tem procurado transformar esta dimensão num esforço coletivo, tornando cada colaborador parte ativa da mudança.
A comunicação interna desempenha um papel central, através da partilha regular de progressos e conquistas, como a instalação da central fotovoltaica ou a adoção de tecnologias de eletrificação. Estas ações permitem sensibilizar os colaboradores para os benefícios ambientais e reforçar o sentimento de pertença. Paralelamente, são dinamizados programas de sensibilização que abordam práticas do dia a dia, como a correta separação de resíduos, a reutilização de materiais ou a eficiência energética, incentivando comportamentos que extravasam o espaço de trabalho e se refletem também no quotidiano dos colaboradores.
A empresa investe ainda na formação contínua, não só em aspetos técnicos, mas também em temas de sustentabilidade e segurança. Exemplo disso é a capacitação das equipas para a utilização de novas tecnologias, como o secador híbrido, ou para a otimização de processos que contribuem para a redução de consumos e de emissões.
Para o futuro, a Primus Ceramics planeia reforçar ainda mais o envolvimento dos colaboradores. Estão previstas formações específicas que permitam identificar novas oportunidades de melhoria na gestão de recursos, a implementação de programas de reconhecimento que premiem ideias ou ações alinhadas com os objetivos de sustentabilidade e a criação de canais de diálogo e participação que valorizem o contributo de todos. Desta forma, a empresa não só promove uma cultura interna orientada para a sustentabilidade, como também fortalece a coesão da equipa e a resiliência organizacional.
A vossa estratégia de sustentabilidade — que inclui medidas ambientais, sociais e de governance — tem sido reconhecida pelo mercado? Sentem que há uma valorização concreta por parte dos vossos clientes e parceiros comerciais?
A estratégia de sustentabilidade da Primus Ceramics, que combina medidas ambientais, sociais e de governance, tem vindo a conquistar reconhecimento no mercado e a gerar valorização concreta junto de clientes e parceiros comerciais. Este reconhecimento traduz-se não apenas em distinções externas, mas sobretudo na forma como a empresa é percecionada como um ator inovador e responsável no setor cerâmico.
A liderança tecnológica tem sido um fator determinante, visível em iniciativas como a parceria com a SACMI para o desenvolvimento do primeiro secador híbrido, que permite reduzir emissões de gases com efeito de estufa. Este projeto pioneiro reforça a imagem da empresa como referência na transição energética, posição confirmada também pelo estatuto de “Inovadora COTEC”. Estas iniciativas não só consolidam a reputação da marca, como atraem clientes e parceiros que valorizam soluções sustentáveis.
A diferenciação competitiva é outro elemento relevante. Ao adotar práticas como a utilização de biometano, o autoconsumo solar, a recuperação de calor residual e a gestão eficiente de resíduos e água, a Primus Ceramics consegue oferecer produtos com uma pegada ambiental reduzida. Esta característica ganha peso crescente no mercado, onde consumidores e empresas estão cada vez mais atentos a critérios ESG, e posiciona a empresa de forma favorável para justificar prémios de sustentabilidade ou assegurar preferência comercial.
Por fim, o reconhecimento também se reflete no estabelecimento de parcerias estratégicas, como a colaboração com a Helexia para projetos de autoconsumo. Estas alianças comprovam a confiança depositada na empresa e reforçam a credibilidade que construiu ao longo do tempo.
Em suma, a Primus Ceramics tem sabido transformar a sua estratégia ESG num verdadeiro motor de inovação e diferenciação. Ao encarar os desafios ambientais como oportunidades de negócio, a empresa solidifica a sua reputação, fortalece relações comerciais e assegura um posicionamento competitivo num mercado cada vez mais exigente e orientado para a sustentabilidade.