O crescimento impressionante da economia global durante a segunda metade do século XX trouxe benefícios extraordinários à humanidade que se traduziram no aumento da esperança média de vida de 45.7 anos em 1950 para 66.3 anos no ano 2000. No mesmo período, a população mundial mais que duplicou de 2540 para 6140 mil milhões. Infelizmente, este crescimento não veio sem custos para o planeta, pois a emissão de gases com efeito de estufa devido à utilização de combustíveis fósseis aumentou mais de quatro vezes, de cerca de 1500 para 6500 milhões de toneladas de carbono por ano, excluindo outras fontes de emissão.
Entre outras causas, o desenvolvimento económico e a industrialização à escala global provocaram a subida da temperatura média da superfície da terra em um grau centígrado, face à linha de base (entre 1951 e 1980) que se mantinha no mesmo nível do período pré-industrial (entre 1850 e 1900). E sendo o dióxido de carbono o maior contribuidor para o aquecimento global, a descarbonização assume um papel essencial na sustentabilidade do planeta e da continuidade da espécie humana.
Como resultado das políticas ambientais da União Europeia, em 2023 houve uma redução das emissões de gases com efeito de estufa face à riqueza gerada, ou ao produto interno bruto (PIB). No terceiro trimestre de 2023 as emissões sofreram uma redução de 7.1% face ao período homólogo de 2022, tendo o PIB permanecido estável com uma redução de apenas 0.2%.
De entre muitas iniciativas, o Governo Português elaborou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050) com o objetivo de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em mais de 85%, em relação a 2005, sabendo que os edifícios têm atualmente uma contribuição da ordem dos dez por cento para essas emissões.
Energia descentralizada
A evolução tecnológica e regulamentar tem vindo a transformar a arquitetura do mercado da energia em Portugal, que evoluiu de uma lógica de produção e consumo unidirecional para incluir também a geração local e a partilha de energia entre consumidores próximos. A viabilidade económica das soluções de geração de energia descentralizada, ou behind the meter na nomenclatura inglesa, é um dos principais facilitadores da descarbonização do consumo de energia, tanto em instalações industriais como de serviços.
Num movimento orientado à expetativa dos consumidores finais em obter produtos com menor pegada carbónica, diversas empresas uniram-se e definiram objetivos de sustentabilidade comuns, ou ESG (Environmental, Social and Governance) na sigla inglesa. Um exemplo desse movimento é o RE100 – iniciativa corporativa global de energia renovável.
Algumas empresas definiram unilateralmente objetivos ESG e publicam ativamente os seus passos nessa direção. Dois bons exemplos são o Grupo H&M que pretende ser neutro em emissões de carbono em 2040 e a Microsoft que definiu como objetivos igualmente para 2030 ser neutra em emissões de carbono, ter saldo positivo no consumo de água e produzir zero resíduos.
Para atingir um objetivo com impacto, como ser neutro na geração de emissões em 2030, uma empresa tem de implementar pelo menos um projeto de grande dimensão, como uma central fotovoltaica ou uma cogeração a biomassa, e diversos projetos complementares de média e pequena dimensão.
A boa notícia é que é possível tornar um edifício de retalho neutro em termos de emissões de gases com efeito de estufa com a tecnologia disponível atualmente e com custos competitivos face à solução tradicional.
Tecnologias para a descarbonização
Talvez a medida mais popular de descarbonização entre as empresas em Portugal seja a instalação de uma central fotovoltaica para produção de energia renovável, devido ao enquadramento legal favorável ao autoconsumo de energia renovável e à disponibilidade anual média de radiação solar no território entre 1572 e 1987 kWh/m2. Para comparação, cidades como Munique ou Paris têm uma disponibilidade anual média de radiação na ordem dos 1100 kWh/m2, menos 38% do que Lisboa.
A energia eólica descentralizada é pouco popular em Portugal devido às limitações de licenciamento e ao payback geralmente longo. No entanto, estes sistemas podem ser competitivos em localizações específicas com velocidades médias do vento elevadas, como por exemplo junto à costa.
A mobilidade elétrica é uma medida simples de descarbonização do consumo tanto de funcionários como de clientes, com investimento acessível e prazos de pagamento entre os 5 e 10 anos, que transfere o consumo de energia fóssil dos veículos com motor a combustão para eletricidade renovável consumida pelos veículos elétricos.
A gestão de energia e a eficiência energética são ações menos valorizadas na maioria das vezes pois necessitam de conhecimento técnico específico e são normalmente complexas de executar. No entanto podem gerar reduções de consumo entre os 5 e 20%.
Artigo escrito por Pedro Alves, Sales Director da Helexia Portugal, para o Case Study “A inovação energética e a competitividade setorial“