Sustentabilidade no imobiliário e turismo

Os inúmeros alertas da comunidade científica, aliados às experiências de fenómenos climáticos extremos vividos nas últimas décadas, obrigaram ao reexame de políticas e práticas em todos os setores de atividades, tendo como objetivo reduzir – drasticamente, embora de forma faseada – a “pegada” humana no mundo.

imobiliário e turismo sustentável

“Sustentabilidade”, “reciclagem” e “redução carbónica” são, atualmente, palavras de ordem e, na grande maioria dos casos, conceitos tidos em conta desde o momento em que se idealiza um projeto, em particular nos mercados imobiliário e turístico. Estes estão também, gradualmente, a integrar critérios de exigência por parte dos consumidores, cada vez mais consciencializados em temas ambientais.

Mas, não obstante terem sido aprovadas diversas estratégias políticas e linhas de atuação[1], programas de apoio e financiamento a ações de modernização e adaptação, o processo de descarbonização, reciclagem e de sustentabilidade em Portugal parece avançar a um ritmo bastante moroso e até contraproducente.


Considerando que a tendência mundial para as próximas décadas, seguida também em Portugal, aponta para o aumento significativo da população, com a consequente necessidade de habitação e equipamentos sociais e de lazer, torna-se premente a implementação de ações mais eficientes.


As medidas a implementar, com vista a alcançar os objetivos de redução dos impactos ambientais das atividades de construção e turística, já constam plasmadas nos referidos programas, estratégias, linhas orientadoras e legislação em vigor. Estão, contudo, em falta, incentivos atrativos que impulsionem o aumento da participação e a aplicação generalizada das medidas nestes setores.

Por exemplo, no âmbito da construção, não seria de somenos que o cumprimento de requisitos relativos à sustentabilidade económica, social e ambiental estivesse aliado a benefícios de carácter fiscal. No setor do turismo e seguindo a linha preconizada pelos prémios internacionais nestas matérias[2] configurar-se-ia adequado o incremento dos requisitos de classificação dos empreendimentos turísticos, para através destes fomentar a adoção de medidas sustentáveis.

E, na construção (nova ou reabilitação) de qualquer edificação, bem como na exploração de empreendimentos turísticos, mencionar medidas necessárias à salvaguarda do futuro do país e do planeta significa:

  • Construção com materiais certificados pelo seu reduzido impacto carbónico (associado à sua fabricação, manutenção e demolição), técnicas construtivas sustentáveis (como a construção modular), prioridade a materiais de origem nacional e reciclagem dos detritos de obra;
  • Contratação de prestações de serviços a empresas locais e acreditadas pela adoção de políticas ambientais (ethical brands), contratação de mão de obra local;
  • Implementação de programas para promoção de medidas destinadas a minimizar ou reverter os impactos causados, incluindo nas atividades desenvolvidas na comunidade local (nomeadamente nas vertentes ambiental, social, cultural e económica);
  • Preservação da fauna e flora local, minimização da intervenção paisagística ou implementação de desenhos que beneficiem o meio envolvente;
  • Plantação de hortas para consumo direto e jardins de plantas com menores necessidades de consumo de água e maximização de vegetação e espécies com maior propensão à produção de sombras;
  • Recurso à compostagem de biorresíduos, através da reciclagem de matéria orgânica e utilização para adubação natural nos jardins e hortas;
  • Pontos de recolha de todo o tipo de lixos, separação de lixos recicláveis, reciclagem de lixos ou envio para pontos locais de tratamento de lixos;
  • Reutilização de águas pluviais e outras águas não aptas para consumo humano para finalidades acessórias como rega ou redireccionamento para reservatórios de tratamento e reutilização;
  • Adoção de sistemas de controlo e maximização de fluxos de água (chuveiros, torneiras, depósitos sanitários), gás e energia e adoção de sistemas alternativos (ar condicionado com renovação e utilização de ar exterior, ventilação natural, sistemas elétricos de baixo consumo, designadamente leds e termóstatos, mediação e controlo de consumos energéticos, utilização de energias alternativas como painéis solares, turbinas de vento, energia geotérmica ou biogás);
  • Adoção de programas de económica circular (assente na redução, reutilização, recuperação e reciclagem) de materiais, equipamentos, mobiliário, roupa e comida (refood), através de doação, depósitos para reciclagem ou venda de bens usados;
  • Redução da periodicidade de substituição de roupas de cama e banho;
  • Aquisição de amenities produzidas com matéria-prima e através de meios sustentáveis, ambientalmente seguros, com reduzida produção de carbono;
  • Redução do consumo de plástico e aquisição preferencial de bens reciclados e recicláveis;
  • Redução ou eliminação do uso de combustíveis fósseis, instalação de pontos de carregamento de veículos elétricos ou híbridos e utilização de veículos não poluentes (como bicicletas, trotinetes e afins).

Nestas matérias, é fundamental a atuação ativa, eficiente e consertada de todos os players do mercado, incluindo promotores, construtores, entidades turísticas, investidores, governos e consumidores.

[1] Como, por exemplo, ao nível nacional: a Estratégia de Turismo 2027, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, a Lei de Bases do Clima, o Pacto Português para os Plástico, o Programa Ação Climática e Sustentabilidade, e ao nível internacional: a Agenda 2030 das Nações Unidas, o Pacto Ecológico Europeu, o NET Zero 2050, a Declaração de Glasgow, entre outros.

[2] Designadamente os concedidos pelo Green Destination Award & Certification, pela Eearthcheck, pela Foundation for Environmental Education, pelo GSTC – Global Sustainable Tourism Council ou pela Green Globe), entre outros.


Artigo escrito por Teresa Madeira Afonso, Sócia co-coordenadora de Imobiliário e Turismo, PLMJ; Luís Filipe Santiago Salema, Associado coordenador de Imobiliário e Turismo, PLMJ; Sustentabilidade no imobiliário e turismo; Maria Goreti Rebêlo, Senior counsel de Imobiliário e Turismo, PLMJ para o Case Study “Descarbonizar o Turismo“. Este case Study faz parte da iniciativa de Think Tank “Inovação energética e a competitividade setorial” realizada em parceria com a Helexia, Deloitte, PMLJ e jornal ECO.

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