Luis Pinho, diretor da Helexia em Portugal, diz que a multinacional francesa tem alvos identificados para aquisições. Preço da energia continua a ser o principal incentivo para a descarbonização.
A Helexia tem alvos identificados para aquisições na mobilidade elétrica e eficiência energética, revela Luis Pinho, Country Director em Portugal da multinacional francesa que fornece serviços de transição verde e descarbonização às empresas, em entrevista ao ECO.
“A Helexia globalmente tem feito um crescimento orgânico. Quando cheguei, éramos 15 pessoas e neste momento somos 500, globalmente. Muito deste crescimento foi orgânico. Não obstante, há setores onde nós achamos que temos de avançar mais rápido“, afirma Luís Pinho, que em 2016 lançou a Helexia Portugal. O que a empresa pretende fazer através de aquisições.
“Neste momento temos alguns alvos. Obviamente, não posso falar deles, mas temos alvos em que estamos a trabalhar ativamente”, revela Luís Pinho. Na mira estão empresas de “mobilidade elétrica e eficiência energética, não só em Portugal, mas noutras geografias onde nós estamos”, acrescenta. A Helexia Portugal adquiriu já a Ewen, que atua na área da eficiência energética, em 2022.
A multinacional francesa, que desde 2019 faz parte do grupo Voltalia, está também a expandir a atividade para novos países. Portugal foi, a seguir a França, o segundo país onde a Helexia abriu uma unidade de negócio, com o objetivo de criar “uma estrutura de base que pudesse ser facilmente replicável para outros países”, explica Luis Pinho. A empresa tem presença anda na Bélgica, Itália, Espanha, Roménia, Brasil e Senegal. Está ainda a abrir na Hungria e Polónia.
A operação em Portugal conta com uma equipa de perto de 60 colaboradores. “O objetivo em 2024 é chegarmos perto de 80 pessoas. Crescer não só na área do fotovoltaico, mas essencialmente na área de mobilidade elétrica e de eficiência energética, que acredito que seja o futuro e é onde a Helexia pode ter um papel preponderante”, refere o country director.
Por estar integrada num grupo cotado em Bolsa, Luis Pinho não pode adiantar números, mas avança que depois de quase duplicar as receitas a cada ano, 2023 foi um ano de consolidação, com um crescimento acima dos 20%. No fotovoltaico, a Helexia Portugal já tem “ligeiramente acima de 50 megawatts de potência instalada, mas nos próximos 12 a 15 meses vamos instalar mais 50 megawatts“, adianta.
O que leva as empresas a fazer esta transformação, e digo isto de forma desapaixonada, continua a ser fundamentalmente o aspeto económico, que varia em função do preço das energias que usam e da perspetiva que tem no médio e no longo prazo.
Luis Pinho, Country Director Helexia
Mais do que a preocupação com a sustentabilidade, é o custo da eletricidade ou do gás que funciona como o incentivo das empresas na transição energética e descarbonização. “O que leva as empresas a fazer esta transformação, e digo isto de forma desapaixonada, continua a ser fundamentalmente o aspeto económico, que varia em função do preço das energias que usam e da perspetiva que têm no médio e no longo prazo”, afirma.
Apesar de os custos terem entretanto baixado, Luis Pinho não espera que as empresas se retraiam. “Eu acho que o investimento não vai abrandar, o investimento vai crescer“, antecipa. Até porque “o que acontece cada vez mais é a pressão do mercado, seja do consumidor, seja dos clientes das empresas, principalmente empresas que internacionalizam, em que [a descarbonização] começa a ser um fator determinante para as empresas que participam em concursos internacionais. Começa a ser cada vez mais um fator diferenciador”, aponta Luis Pinho.
A Helexia também faz o financiamento dos projetos. “Por uma questão de agilidade, nós trabalhamos com capital próprio e depois, pontualmente, fazemos alavancagem financeira”, explica Luís Pinho. Em Portugal, trabalha sobretudo com a Caixa e o Crédito Agrícola, mas o caminho passa por obter financiamentos de maior escada para suportar simultaneamente a atividade nas diferentes geografias.
“Em 2023, concluímos uma operação de alavancagem de projetos, com um banco francês, em que conseguimos financiar projetos em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália, tudo numa operação”, avança o country director da Helexia. “Conseguimos provar ao mercado e a nós próprios que o nosso modelo de negócio está correto, é estável e é sustentável, porque senão nenhum banco iria confiar”, sublinha.
Falta de recursos humanos é o “calcanhar de Aquiles”
A falta de recursos humanos com as competências necessárias “tem sido uma das minhas maiores preocupações, e não é só Portugal, porque estou envolvido também na coordenação dos outros países onde a Helexia está presente”, partilha Luis Pinho. Este é, “neste momento, o calcanhar de Aquiles”.
“O que sentimos é que em toda a cadeia de valor há falta de recursos humanos, quer especializados ao nível de engenharia, mas também em mão de obra para para fazer montagem. Isso tem sido um problema”, sublinha o Country Director da Helexia.
O que sentimos é em toda a cadeia de valor há falta de recursos. Não é só Portugal. Estes projetos de produção de energia, de eficiência energética estão a crescer muito em todos os países da Europa e não só. Há falta de recursos quer especializados ao nível de engenharia, mas também em mão de obra para para fazer montagem.
A solução passa pelo treino interno, mas o responsável considera que “há também um desafio para a academia”, para “formar mais pessoas nas áreas específicas”, como “engenharia, eletrotécnica, mecânica, etc”. Aponta ainda a reconversão de recursos humanos em setores “que não tenham uma perspetiva de crescimento ou até tenham uma perspetiva de estagnação“. Aponta como exemplo o setor do “petróleo e gás”, onde começa a haver um “fade out“.
Luis Pinho deixa elogios à legislação portuguesa. “Eu acho que no setor da energia nós estamos muito bem servidos em termos de regulação“, afirma. Gostava, no entanto, de ver ver mais “capacidade de resposta da Direção-Geral de Energia e Geologia“, embora reconheça que tem “havido um esforço” de melhoria.
Em relação à mobilidade elétrica, “refere que na Mobi.e havia alguns atrasos e uma forma de operar nem sempre amiga do negócio”, mas que a entidade “lançou uma plataforma nova que permite uma agilidade muito maior”.
O Country Director da Helexia defende também mudanças na regulação por parte da União Europeia no que toca à forma como os investimentos na eficiência energética “são representados no balanço quer do investidor quer do cliente”, que neste momento funciona “como uma barreira e um desincentivo”. Um trabalho que diz “estar a ser feito”.