A energia deixou de ser apenas um custo: é uma vantagem competitiva para as empresas

A energia é um fator transversal a todos os setores e um dos elementos que mais influencia o custo de produção de bens e serviços.

Na sequência da inauguração da maior central solar em cobertura de Portugal, instalada na unidade industrial da Fapricela, o Diário As Beiras publica uma entrevista exclusiva conduzida por Luís Pinho, com a participação da Helexia — empresa responsável pelo projeto.


A energia continua a ser um dos principais fatores de competitividade para o tecido empresarial português. De que forma as empresas podem transformar este desafio num trunfo estratégico?

A energia é um fator transversal a todos os setores e um dos elementos que mais influencia o custo de produção de bens e serviços — e, consequentemente, o seu preço final. A crise energética provocada pela guerra na Ucrânia foi um exemplo claro: o aumento abrupto dos preços do gás natural teve um impacto profundo em economias fortemente dependentes do gás russo, como a Alemanha.

Portugal, pelo contrário, tem uma vantagem estrutural que tem que ser aproveitada: as condições endógenas favoráveis à produção de energia renovável. Ao investir num mix energético diversificado, limpo e cada vez mais local, conseguimos reduzir a exposição geopolítica e, ao mesmo tempo, criar condições para preços de energia mais estáveis e competitivos.

Além disso, a perceção da energia dentro das empresas evoluiu. Há algumas décadas, era um tema técnico, muitas vezes restrito a departamentos específicos. Hoje, está na agenda das comissões executivas. É uma questão estratégica, com impacto direto na resiliência, na rentabilidade e na reputação das organizações.

A verdade é que não vamos precisar de menos energia — vamos precisar de melhor energia: mais limpa, mais eficiente, mais inteligente. E isso é uma oportunidade para transformar um desafio global num trunfo competitivo para o tecido empresarial português.

O autoconsumo solar já é uma realidade consolidada em muitas empresas. Quais são, na sua opinião, os próximos passos na jornada de descarbonização da indústria?

Sim, o autoconsumo solar já é uma realidade consolidada em muitas empresas — e tem evoluído de forma notável nos últimos anos. Quando a Helexia chegou a Portugal, há cerca de 9 anos, ainda sentíamos alguma resistência. Hoje, há uma clara maturidade e alinhamento por parte das empresas quanto à importância da produção descentralizada de energia.

No entanto, o autoconsumo responde apenas a uma parte do desafio: consumir melhor. Falta abordar a outra dimensão essencial da descarbonização: consumir menos. Uma percentagem significativa da energia consumida na indústria é desperdiçada, traduzindo-se em emissões evitáveis e custos desnecessários.

O próximo passo, por isso, passa pela eficiência energética — e a fórmula é simples: em primeiro lugar: diagnosticar, que passa por realizar uma auditoria energética global para identificar padrões de consumo e áreas de melhoria.
Em segundo, otimizar, ou seja, implementar medidas concretas de eficiência, que permitam reduzir consumos e custos operacionais.
Por último, gerir de forma contínua. Isto significa implementar sistemas inteligentes e dinâmicos de monitorização e gestão de energia, baseados em dados, que permitem acompanhar o desempenho em tempo real, identificar desvios e tomar decisões informadas

A Helexia no seu modelo de negócio tem esta abordagem integrada — que combina produção limpa, consumo eficiente e gestão inteligente — acreditamos que são pontos essenciais para acelerar a descarbonização da indústria e reforçar a sua competitividade.

A crescente exigência de reporte de dados ESG representa um desafio para as empresas. Mas pode também ser uma oportunidade? Em que medida é benéfico para o negócio?

A crescente exigência de reporte ESG representa, sim, um desafio — mas é, sobretudo, uma oportunidade para transformar o negócio e torná-lo mais resiliente e alinhado com as expectativas da sociedade.

Quando queremos mudar comportamentos à escala sistémica, é natural que exista pressão regulatória — e esse é o papel da União Europeia. O objetivo da neutralidade em carbono até 2050, exige uma transformação profunda da economia, em que todas as organizações são chamadas a intervir. As empresas, que tradicionalmente reportavam apenas dados financeiros, passam agora a integrar também indicadores ambientais, sociais e de governance.

A Europa, com abordagens como a dupla materialidade — que avalia não só como a empresa é afetada pelos riscos ambientais, mas também como impacta o ambiente e a sociedade — e com a taxonomia europeia, que define o grau de sustentabilidade das atividades económicas, está a dar passos importantes nesta direção. Neste novo contexto, a sustentabilidade deixou de ser um tema periférico: é a estratégia.

É verdade que esta transição demora tempo e envolve investimento. Por isso, é fundamental que as empresas não estejam sozinhas neste caminho. É aqui que a Helexia pode ser um parceiro estratégico. Ajudamos as empresas a identificar oportunidades de descarbonização, implementamos soluções concretas de eficiência energética, mobilidade elétrica ou produção renovável e ajudamos os nossos clientes a monitorizar e reportar o impacto positivo dessas ações, com base em dados reais. Ou seja, apoiamos as empresas a alinharem-se com os requisitos ESG — não apenas para cumprir regulamentação, mas para criar valor e reforçar a sua competitividade a longo prazo.

Como vê o papel de empresas como a Helexia na liderança pelo exemplo? É possível acelerar a transição energética através de parcerias mais próximas com os clientes?

Essa é, de facto, uma excelente questão — porque não podemos ajudar a transformar os outros sem também nos transformarmos. Na Helexia, acreditamos que liderar pelo exemplo começa dentro de portas. O nosso modelo de negócio contribui diretamente para a transição energética, através da implementação de soluções que promovem a eficiência, a mobilidade elétrica e a produção descentralizada de energia renovável. Mas isso, por si só, não chega. Também nós temos de medir, reportar e melhorar o nosso próprio desempenho ambiental, social e de governance.

exemplo concreto: a nossa frota é hoje 100% elétrica — uma transição que fizemos de forma progressiva ao longo dos últimos 5 anos. Esta decisão reflete o nosso compromisso com a descarbonização e com a coerência entre o que propomos aos clientes e o que aplicamos na nossa própria operação.

Além disso, acreditamos que a transição energética tem também uma dimensão social: nenhuma empresa prospera numa sociedade que falha. Por isso, queremos ter uma intervenção ativa, contribuindo para uma economia mais sustentável, inclusiva e resiliente.

Quanto às parcerias com clientes, são absolutamente centrais para acelerar esta transformação. Aliás, esse é o espírito do ODS 17 – Parcerias para a Implementação. O nosso trabalho parte de relações de confiança e colaboração. Cada empresa tem um perfil energético próprio, com desafios específicos. Não existem soluções universais. O que existe é escuta ativa, proximidade e co-construção de soluções à medida.

É essa abordagem que torna possível gerar impacto real — tanto na descarbonização como na competitividade dos nossos parceiros.

Num contexto económico marcado pela incerteza, como convencer os decisores empresariais de que investir em sustentabilidade é uma escolha racional e não apenas ética?

Quando o contexto económico se torna desafiante, é precisamente aí que se revela quem está verdadeiramente comprometido com a sustentabilidade — e quem a vê apenas como um exercício de imagem.

Na minha opinião, a mudança verdadeira não deve ser condicional, nem depender das flutuações do mercado ou das crises do momento. Ela exige visão de longo prazo, coragem para manter o rumo e um compromisso genuíno com aquilo que realmente importa — seja a resiliência do negócio, a confiança dos stakeholders ou o futuro do planeta.

Hoje, há dados que sustentam esta visão: os consumidores valorizam cada vez mais empresas que assumem um papel ativo na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. E o mesmo se aplica aos investidores, aos talentos que as empresas querem atrair e às cadeias de valor em que se inserem. A sustentabilidade deixou de ser apenas uma questão ética — é uma escolha racional, estratégica e económica.

Além disso, num cenário de incerteza, investir em sustentabilidade é também investir em controlo de risco, eficiência e diferenciação competitiva. Reduzir o consumo de energia, diminuir a exposição à volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis, melhorar o desempenho ESG e reforçar a reputação são formas concretas de tornar o negócio mais resiliente.

As marcas que vão liderar o futuro não serão aquelas que escolhem o caminho mais fácil, mas sim aquelas que mantêm o foco no propósito, mesmo nos momentos mais difíceis. São essas que ganham a confiança do mercado — e, com ela, a capacidade de crescer de forma sustentável.

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